quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

The Girl, e a injustiça sobre Hitchcock

O filme inglês The Girl (2012), produzido pela BBC sobre uma possível relação controversa entre o talentoso cineasta Alfred Hitchcock (aqui já citado em outro post) e a protagonista de The Birds (no Brasil, Os Pássaros) e Marnie (no Brasil, Marnie - Confissão de uma ladra), a atriz Tippi Hedren vem causando um levante em defesa do caráter do grande diretor.


The Girl é dirigido por Julian Jarrold (Amor e Inocência) e conta com roteiro adaptado por Gwyneth Hughes (Sob a Pele) a partir de duvidosos livros biográficos do autor norte-americano Donald Spoto (conhecido autor de Francisco de Assis, o Santo Relutante, que transforma a imagem de São Francisco em um humanista inter-religioso): The Dark Side of Genius: The Life of Alfred Hitchcock de 1983 e Spellbound by Beauty: Alfred Hitchcock and His Leading Ladies de 2008. Em noventa minutos de uma má qualidade de atuação, o filme tenta mostrar uma paixão excessiva de Alfred Hitchcock à Tippi Hedren.


A atriz de Tippi Hedren de 82 anos é interpretada por Sienna Miller, e no filme seria vítima de contínuas moléstias sexuais e de abusos de todo tipo pelo então diretor, durante as gravações de seus dois filmes Marnie e The Birds.


No entanto, o famoso biógrafo de Hitchcock, Tony Lee Moral, autor de três livros sobre o diretor (inclusive dois deles escritos entre os makings de seus filmes abordados no livro de Donald Spoto: The Making of Hitchcock's The Birds e Hitchcock and the making of Marnie) esclarece em The Telegraph que tais histórias imorais sobre Hitchcock e Tippi Hedren servem apenas para macular falsamente a imagem do diretor.


Grandes outras atrizes, que foram marcos no cinema, e musas nas filmagens de Hitchcock vieram também em sua defesa, algumas delas em entrevista ao jornal britânico The Telegraph:


Eve Maria Saint no filme
Intriga Internacional
“Minha experiência com Hitchcock foi de total respeito, cordialidade, simpatia e humor, e North by Northwest foi um momento glorioso em minha vida, Hitchcock foi um gentleman, ele era engraçado, muito atencioso para comigo e com tudo o que minha personagem precisava” disse Eve Marie Saint, que estrelou o filme conhecido no Brasil por Intriga Internacional.



Doris Day
Doris Day, que estrelou The Man Who Knew Too Much com Jimmy Stewart diz sobre o grande diretor: “Ele era apenas ‘Mr. Hitchcock’, maravilhoso, um grande diretor e um ótimo amigo. Eu amei trabalhar com ele.”


Kim Novak, a estrela de Vertigo, também defende Hitchcock: “Ele é um grande diretor e certamente um para ser estudado. Ele era um perfeccionista!”


Entre outros que vieram em sua defesa, esteve Virginia Darcy, cabeleireira conjunta durante as gravações de The Birds e Marnie.


Nora Brown, viúva de Jim Brown, diretor-assistente de The Birds e Marnie, também colocou o filme da BBC sob fogo, pois contribuiu para a realização do filme sobre Hitchcock, pensando ser um retrato afetuoso do diretor. Em entrevista ao The Daily Telegraph, ela diz: “Ele [Jim Brown] não tinha nada além de respeito e admiração por Hitchcock, compreendendo sua personalidade cockney inteligente e bem-humorada, e sempre o achou um gênio”. “Se aqui ele estivesse hoje, duvido que teria algum comentário negativo [a Hitchcock]. Ele estaria triste com a imagem mal-retratada de seu amigo e mentor”, completou Nora Brown.

A fome na Ucrânia e a perversidade comunista

Robert Conquest, famoso historiador sobre a União Soviética, em seu livro The Harvest of Sorrow, cita o testemunho de um ativista soviético sobre o roubo de alimentos das famílias ucranianas que ainda resistiam à barbárie comuno-soviética, roubo e confisco este, ordenado por Stálin, e cruelmente cumprido por soldados soviéticos em todo o território ucraniano, gerando assim uma catástrofe de milhões de mortos de fome, doenças psicológicas severas, e até mesmo canibalismo entre desesperados camponeses:


Eu ouvi as crianças... engasgando sufocadas, tossindo e gritando de dor e de fome.  Era doloroso ver e ouvir tudo aquilo.  E ainda pior era participar de tudo aquilo.... Mas eu consegui me persuadir, me convencer e explicar a mim mesmo que aquilo era necessário.  Eu não poderia ceder; não poderia me entregar a uma compaixão debilitante .... Estávamos efetuando nosso dever revolucionário.  Estávamos obtendo cereais para a nossa pátria socialista....

Nosso objetivo maior era o triunfo universal do comunismo, e, em prol desse objetivo, tudo era permissível — mentir, enganar, roubar, destruir centenas de milhares e até mesmo milhões de pessoas...





Era assim que eu e meus companheiros raciocinávamos, mesmo quando... eu vi o real significado da "coletivização total" — como eles aniquilaram os kulaks, como eles impiedosamente arrancaram as roupas dos camponeses no inverno de 1932-33.  Eu mesmo participei disso, percorrendo a zona rural, procurando por cereais escondidos.... Junto com meus companheiros, esvaziei as caixas e os baús onde as pessoas guardavam seus alimentos, tampando meus ouvidos para não ouvir o choro das crianças e a lamúria suplicante das mulheres.  Eu estava convencido de que estava realizando a grande e necessária transformação da zona rural; e que nos dias vindouros as pessoas que viveriam ali estariam em melhor situação por minha causa.


Na terrível primavera de 1933, vi pessoas literalmente morrendo de fome. Vi mulheres e crianças com barrigas inchadas, ficando azuis, ainda respirando mas com um olhar vago e sem vida.... Eu não perdi a minha fé.  Assim como antes, eu acreditava porque eu queria acreditar.





Em uma choupana, era comum haver algum tipo de guerra entre a família.  Todos vigiavam estritamente todos os outros.  As pessoas brigavam por migalhas, tomando restos de comida umas das outras.  A esposa se voltava contra o marido e o marido, contra ela.  A mãe odiava os filhos.  Já em outra choupana, o amor permaneceria inviolável até o último suspiro da família.  Eu conheci uma mulher que tinha quatro filhos.  Ela costumava lhes contar lendas e contos de fadas com a intenção de fazê-los esquecer a fome.  Sua própria língua mal podia se mover, mas mesmo assim ela se esforçava para colocá-los em seus braços, ainda que ela mal tivesse forças para levantar seus braços quando eles estavam vazios.  O amor vivia dentro dela.  E as pessoas notaram que, onde havia ódio, as pessoas morriam mais rapidamente.  Entretanto, o amor não salvou ninguém.  Todo o vilarejo sucumbiu; todos juntos, sem exceção.  Não restou uma só vida.




Robert Conquest em seu livro, calcula a terrível soma de aproximadamente 14,5 milhões de mortos pela fome na Ucrânia. Mais uma horrenda mostra do que é capaz a perversidade comunista para implantar a todo custo sua completa animalização do homem.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A mór Beleza


Dos Céus à terra desce a mór beleza,
une-se à carne nossa e fá-la nobre;
e, sendo a humanidade dantes pobre,
hoje subida fica à mór alteza.

Busca o Senhor mais rico a mór pobreza
que, como ao mundo o seu amor descobre,
de palhas vis o corpo tenro cobre,
e por elas o mesmo Céu despreza.

Como Deus em pobreza à terra desce?
O que é mais pobre tanto lhe contenta
que só rica a pobreza lhe parece.

Pobreza este Presépio representa.
Mas tanto, por ser pobre, já merece
que quanto é pobre mais, mais lhe contenta.

(Camões, Soneto 136)


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Como preparar-se para o Natal?

Por São João de Ávila, sermão pregado no terceiro Domingo do Advento.

Uma palavra para todos os que quiserdes receber a Deus neste Natal: - "Padre, eu amo a Deus, que farei?" Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai em água e molhai-a. 

Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais, Existirá mulher tão desleixada que, tendo uma marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes no ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes. Praza a Nosso Senhor que não vos exijam contas disso no dia do Juízo. E se disserdes então: - "Eu não sabia, por isso não me confessei", dir-vos-ão: - "Bem que vo-lo disseram, bem que vo-lo gritaram, muito se afadigaram em alertar-vos; agora de nada serve puxar os cabelos porque antes não o quisestes fazer".

Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura, que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai vossa casa. 


Depois de varrida, molhai o chão. - "Mas não posso chorar, padre". E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? - "Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero". Pobres de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus - pois isso acontece a quem peca -, o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes. Quando perdes uma quantia insignificante, não há quem consiga consolar-te, nem frades, nem padres, nem amigos, nem parentes. E, no entanto, não te entristeces quando perdes nada menos que o próprio Deus. Que significa isto, senão que tens tanta terra nos canais entre o coração e os olhos que a água não pode passar? 

- "Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?" De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas do ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada a dureza do coração.