quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Últimas palavras em público de Alfred Hitchcock

Últimas palavras em público do cineasta católico Alfred Hitchcock, na cerimônia de premiação da AFI em 1979

 
"Agradeço ao embaixador Jay, à rainha Ingrid, ao diretor Stevens e a meus companheiros deste estranho trabalho que é a “fabricação” de filmes. Há muito tempo me dei conta de que o homem não vive só de assassinato. Necessita afeto, aprovação, ânimo e –de vez em quando- boa e abundante comida.

Esta noite, todos vocês me deram três dessas quatro coisas, pois a angustia me estrangulou o apetite.

Me sinto realmente orgulhoso de receber o “Prêmio de Toda uma Vida” da AFI. Ainda mais quando este prêmio vem de meus amigos e colegas de celulóide. Ao final, quando um homem é reconhecido culpado de um assassinato e condenado à morte, sempre é agradável saber que a condenação é obra de um jurado de amigos e vizinhos... ajudados por um advogado incompetente.

Colocaria à prova sua resistência, e a minha, ao recitar os nomes dos milhares de atores, escritores, editores, câmeras, músicos, técnicos... banqueiros, expositores... e uma variedade de outros criminosos que contribuíram em minha vida.

Vou mencionar só quatro pessoas às quais devo o mais profundo carinho, inteligência, e ânimo, além de uma colaboração constante.

A primeira dessas quatro pessoas é a montadora de meus filmes, a segunda, a roteirista, a terceira, a mãe de minha filha Pat, e a quarta é a cozinheira que conseguiu os mais maravilhosos milagres em uma cozinha doméstica. E seus nomes são Alma Reville.

Se a linda Reville não houvesse aceitado, há 53 anos, um contrato para toda a vida –sem opções- como Sra. Alfred Hitchcock, o Sr. Alfred Hitchcock quiçá estaria esta noite neste lugar, mas certamente não em esta mesa, e sim como um dos garçons da sala.
Hitchcock e sua esposa Alma Reville
Compartilho minha recompensa com ela, como fiz com minha vida. Agora, deixa-me compartilhar algumas coisas com os jovens cheios de promessas que ganharam um título como membros da confraria Alfred Hitchcock graças a AFI. Quando tinha apenas 6 anos, fiz algo que meu pai considerou digno de castigo. Não recordo que transgressão era – à idade de 6 anos, seguramente não teve nada a ver com a criada-.

Bem, meu pai me enviou à delegacia de polícia na esquina com um bilhete. O policial em serviço o leu e depois me fechou em uma cela durante 5 minutos, dizendo: “Isto é o que acontece com os meninos maus”. Deste então não duvidei em fazer qualquer coisa para evitar ser arrastado e encarcerado.

A vocês jovens, minha mensagem é a seguinte: “Evitem a prisão!”.

Algum dia, quiçá, um de vocês estará neste lugar recebendo um prêmio AFI. É o que conseguem os meninos bons”.

Alfred Hitchcock

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