Últimas palavras em público do cineasta católico Alfred Hitchcock, na cerimônia de premiação da AFI em 1979
"Agradeço ao embaixador Jay,
à rainha Ingrid, ao diretor Stevens e a meus companheiros deste estranho
trabalho que é a “fabricação” de filmes. Há muito tempo me dei conta de que o
homem não vive só de assassinato. Necessita afeto, aprovação, ânimo e –de vez
em quando- boa e abundante comida.
Esta noite, todos vocês me
deram três dessas quatro coisas, pois a angustia me estrangulou o apetite.
Me sinto realmente orgulhoso
de receber o “Prêmio de Toda uma Vida” da AFI. Ainda mais quando este prêmio
vem de meus amigos e colegas de celulóide. Ao final, quando um homem é
reconhecido culpado de um assassinato e condenado à morte, sempre é agradável
saber que a condenação é obra de um jurado de amigos e vizinhos... ajudados por
um advogado incompetente.
Colocaria à prova sua
resistência, e a minha, ao recitar os nomes dos milhares de atores, escritores,
editores, câmeras, músicos, técnicos... banqueiros, expositores... e uma
variedade de outros criminosos que contribuíram em minha vida.
Vou mencionar só quatro
pessoas às quais devo o mais profundo carinho, inteligência, e ânimo, além de
uma colaboração constante.
A primeira dessas quatro
pessoas é a montadora de meus filmes, a segunda, a roteirista, a terceira, a
mãe de minha filha Pat, e a quarta é a cozinheira que conseguiu os mais
maravilhosos milagres em uma cozinha doméstica. E seus nomes são Alma Reville.
Se a linda Reville não
houvesse aceitado, há 53 anos, um contrato para toda a vida –sem opções- como
Sra. Alfred Hitchcock, o Sr. Alfred Hitchcock quiçá estaria esta noite neste
lugar, mas certamente não em esta mesa, e sim como um dos garçons da sala.
Hitchcock e sua esposa Alma Reville |
Compartilho minha recompensa
com ela, como fiz com minha vida. Agora, deixa-me compartilhar algumas coisas
com os jovens cheios de promessas que ganharam um título como membros da
confraria Alfred Hitchcock graças a AFI. Quando tinha apenas 6 anos, fiz algo
que meu pai considerou digno de castigo. Não recordo que transgressão era – à
idade de 6 anos, seguramente não teve nada a ver com a criada-.
Bem, meu pai me enviou à
delegacia de polícia na esquina com um bilhete. O policial em serviço o leu e
depois me fechou em uma cela durante 5 minutos, dizendo: “Isto é o que acontece
com os meninos maus”. Deste então não duvidei em fazer qualquer coisa para
evitar ser arrastado e encarcerado.
A vocês jovens, minha
mensagem é a seguinte: “Evitem a prisão!”.
Algum dia, quiçá, um de
vocês estará neste lugar recebendo um prêmio AFI. É o que conseguem os meninos
bons”.
Alfred Hitchcock
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